O Brasil é conhecido no mundo como o país do futebol, é claro, somos apaixonados por este esporte. Mas você sabe como começou esta paixão nacional? No artigo de hoje iremos falar sobre a história do Campeonato Brasileiro.

Para entendermos o histórico do Campeonato Brasileiro, é essencial voltarmos ao seu início. No final do século XIX, imigrantes ingleses trouxeram para o Brasil a cultura esportiva que encantava a Europa. Inicialmente praticado pelas elites, o futebol logo se popularizou, especialmente nos estados de São Paulo. Foi lá, em 1902, que o primeiro campeonato de futebol foi fundado, influenciando outros estados a seguirem o exemplo e criarem suas próprias competições estaduais.

Com o crescimento da popularidade do futebol, surgiu o anseio por uma competição nacional. No entanto, isso não foi uma tarefa fácil para os brasileiros. Ao contrário de países como Argentina e Uruguai, que já possuíam ligas nacionais, o Brasil enfrentava desafios como a falta de financiamento e a vastidão territorial.

Os Primeiros Passos: Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais e Torneio Rio-São Paulo

Em 1922, nasceu o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, uma das primeiras grandes competições entre os estados brasileiros. Embora não fosse disputado por clubes, este campeonato dominou o futebol brasileiro até os anos 50, com emocionantes duelos entre as seleções cariocas e paulistas.

Ao mesmo tempo, surgiu outra competição fundamental: o Torneio Rio-São Paulo. Durante a década de 50, este torneio ganhou destaque e se tornou um dos principais campeonatos do Brasil. No entanto, o impulso para a criação de um campeonato nacional veio com o Torneio Internacional de Clubes Campeões, também conhecido como Copa Rio de 1951.

Time do Corinthians que se sagrou bi-campeão do torneio Rio-São Paulo em 1953

Time do Corinthians que se sagrou bi-campeão do torneio Rio-São Paulo em 1953

O Nascimento da Taça do Brasil

Impressionada pela organização da Copa do Mundo de 1950 no Brasil, a FIFA favoreceu a criação de uma competição nacional. Entretanto, o Brasil não tinha um representante nacional para a Taça dos Campeões Sul-Americanos planejada pela Conmebol.

Diante disso, representantes de São Paulo e Rio de Janeiro pediram para representar o Brasil no torneio internacional. Isso pressionou a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) a criar urgentemente uma competição nacional para evitar problemas futuros.

Assim, em 1952, a CBD apresentou o projeto da competição nacional, aceito pela FIFA e iniciado em 1955. O primeiro Congresso Brasileiro de Seleções de Futebol, em Belo Horizonte, foi crucial para discutir a organização do novo torneio.

A Fundação da Taça Brasil em 1959

Em 1959, a Taça Brasil foi fundada, sendo o primeiro campeonato nacional que reunia os clubes campeões de cada estado. Na primeira edição, 16 campeões estaduais participaram, com o campeonato dividido em três fases. A competição teve grupos eliminatórios, culminando nos representantes das regiões Norte e Sul, além dos clubes do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Bahia foi o surpreendente campeão da primeira edição, derrotando o poderoso Santos e encerrando a hegemonia do eixo Rio-São Paulo. A partir daí, mais clubes se juntaram à competição, com o Santos se tornando o maior campeão da época.

A Era da Taça de Prata e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa

Em 1967, diante do pouco interesse público pela Taça Brasil, a CBD criou a Taça de Prata, que se tornou o único campeonato nacional em 1969, encerrando a Taça Brasil. Isso abriu caminho para o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que teve um formato com dois grupos na primeira fase e uma fase final com os melhores times.

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa foi considerado um dos primeiros campeonatos nacionais, proporcionando um desenvolvimento notável para o futebol brasileiro. Em 1960, a conquista nacional do Cruzeiro e a fraca performance da seleção brasileira levantaram questões sobre o torneio.

Troféu entregue ao vencedor do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967

Troféu entregue ao vencedor do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967

O início do Campeonato Brasileiro

A década de 70 trouxe mudanças significativas para o Campeonato Brasileiro. Em 1971, a Taça de Prata deu lugar ao Campeonato Nacional de Clubes, com o objetivo de incluir mais clubes e regiões do país. Foi nessa época que surgiu a segunda divisão nacional, embora sem um sistema de promoção direta.

O formato do campeonato nacional de 1971 era semelhante ao da Taça de Prata, com algumas modificações no número de fases e participantes. A competição ganhou destaque com o apoio da Loteria Nacional e dos meios de comunicação, que foram usados para promover o campeonato como parte do plano de integração nacional do regime militar.

Em 1973, o campeonato nacional foi ampliado e teve a participação de 40 clubes de 20 estados na primeira divisão, marcando a inclusão de equipes de várias regiões do país, do nordeste ao sul.

Esse aumento na participação de equipes de diversos Estados fazia parte de um plano de desenvolvimento nacional do governo militar que visava promover o desenvolvimento de áreas isoladas.

No entanto, o doping também se tornou um tema importante em 1973, quando o jogador Campos, do Atlético Mineiro, foi o primeiro caso conhecido no Campeonato Brasileiro. Isso destacou a importância do controle antidoping no esporte.

Histórico do Campeonato Brasileiro: Crescimento e Instabilidade Administrativa

O período entre 1975 e 1987 foi marcado por um crescimento e instabilidade administrativa no futebol brasileiro. A saída de João Havelange da presidência da CBD para assumir a FIFA em 1975 trouxe mudanças significativas, com Almirante Heleno Nunes assumindo seu lugar. Sob pressão do regime militar, a CBD aumentou o número de clubes participantes nos campeonatos, resultando em um significativo aumento no número de equipes.

Em 1975, a CBD introduziu o Troféu Copa Brasil, um novo troféu mais elaborado projetado por Maurício Salgueiro. Além disso, o Campeonato Nacional de Clubes passou por uma reformulação e foi oficialmente renomeado como Copa do Brasil.

Paralelamente, a criação da Copa do Brasil em 1975 tinha como objetivo reduzir os custos da CBD. No entanto, muitos clubes foram convidados por conveniência política, o que acabou por desvalorizar a competição e seus vencedores. Esses eventos refletem um período de crescimento acompanhado por desafios administrativos e instabilidade no futebol brasileiro.

A saída de João Havelange da presidência da CBD para assumir a FIFA em 1975 trouxe mudanças significativas.

A saída de João Havelange da presidência da CBD para assumir a FIFA em 1975 trouxe mudanças significativas.

A Revolta dos Clubes e a Criação do Clube dos 13

Em 1980, com o desmembramento da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) no ano anterior, o futebol brasileiro viu o surgimento de sua própria entidade, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Com essa mudança, o cenário do futebol nacional passou por uma transformação significativa, incluindo um novo campeonato nacional completamente reformulado, chamado de “Taça de Ouro”.

A Taça de Ouro apresentava um formato com duas divisões, e além disso, a CBF introduziu um novo troféu que seria entregue ao campeão do torneio. Entretanto a CBF enfrentou críticas quanto à sua capacidade de organizar o campeonato nacional, levando os principais clubes a se unirem e formarem o Clube dos 13. O objetivo deste grupo era criar a Copa União, um torneio disputado exclusivamente pelos 13 principais clubes.

Contudo, a CBF acabou por mudar de posição e incluiu mais clubes, resultando na divisão do torneio em quatro módulos. Isso gerou conflitos entre a entidade e o Clube dos 13, culminando na realização da Copa União em 1987, marcada por controvérsias sobre o verdadeiro campeão do torneio.

A Controvérsia de 1987 a Copa União e a Formação do Clube dos 13

Durante o período do Campeonato Brasileiro, de 1972 a 1987, os regulamentos indicavam que os campeonatos estaduais seriam usados como classificatórios para o Campeonato nacional. Contudo, a maneira como essa classificação ocorria frequentemente gerava confusão, levando alguns clubes a serem convidados mesmo sem um bom desempenho nos estaduais.

Esse cenário gerou insatisfação em muitos clubes, especialmente os grandes de São Paulo, com exceção do Palmeiras, que decidiram sair da competição em 1979 em protesto contra o sistema de classificação confuso. Esse movimento marcou o início da formação do Clube dos 13.

O Controverso Ano de 1987 e a Copa União

Em 1987, a CBF anunciou sua incapacidade financeira para organizar o campeonato nos mesmos moldes, poucas semanas antes do início previsto. Prometendo buscar um patrocinador sem sucesso, a Confederação apresentou aos clubes a opção de bancarem suas próprias despesas com viagens ou realizar um campeonato regionalizado, semelhante à antiga Taça Brasil.

Diante dessa situação, os treze clubes de futebol mais populares do Brasil oficializaram uma nova entidade conhecida como Clube dos 13 para organizar seu próprio campeonato. Este torneio ficou conhecido como Copa União.

Módulo Verde, Módulo Amarelo, Quadrangular e a Copa Libertadores

Para conciliar os interesses da CBF com o Clube dos 13, a competição foi oficialmente nomeada de Módulo Verde da Copa Brasil pela CBF, que também criou o Módulo Amarelo, com os demais times não pertencentes ao clube dos 13 e um quadrangular onde os melhores times de cada módulo se enfrentariam.

No final, foi determinado um cruzamento entre os campeões e vice-campeões de ambos os módulos, de onde sairiam os dois representantes do Brasil para a Copa Libertadores de 1988.

Flamengo e Internacional se recusaram a participar desse cruzamento e foram eliminados por W.O. Como resultado, Sport e Guarani disputaram o quadrangular com apenas dois jogos finais, consagrando o Sport como campeão brasileiro de 1987.

Oficialmente, pela CBF, o Módulo Amarelo e o Módulo Verde, ambos com dezesseis clubes, formaram o Campeonato Brasileiro de 1987 com um total de 32 clubes.

O Redimensionamento em 1988 e o Sistema de Acesso e Descenso

Em 1988, após a confusão na edição anterior do campeonato nacional, a CBF decidiu reduzir o número de participantes na segunda Copa União, visando um campeonato mais competitivo com apenas 24 equipes. Pela primeira vez, a competição contou com um verdadeiro sistema de acesso e descenso, conforme exigido pela FIFA.

Dessa vez, o regulamento foi cumprido, e os quatro últimos colocados da primeira divisão em 1988 (Bangu, Santa Cruz, Criciúma e América) foram rebaixados para a segunda divisão em 1989. Eles foram substituídos por Inter de Limeira e Náutico, respectivamente campeão e vice-campeão da Divisão Especial de 1988.

O Campeonato Brasileiro de 1989

Assim, em 1989, o Campeonato Brasileiro manteve seu formato com 24 equipes, promovendo um campeonato mais conciso e organizado. Este ajuste marcou uma mudança significativa na estrutura da competição, com a introdução de um sistema de acesso e descenso que seguiu as diretrizes da FIFA.

A Mudança da CBF e o Campeonato Brasileiro

Entre 1989 e 2002, ocorreram mudanças significativas na CBF e no Campeonato Brasileiro, especialmente durante a gestão de Ricardo Teixeira, que assumiu a presidência da entidade em 16 de janeiro de 1989. Nesse período, a CBF enfrentava sérios problemas financeiros e Teixeira conseguiu transformá-la em superavitária por meio de contratos milionários envolvendo a Seleção Brasileira. Sob sua gestão, o Campeonato Brasileiro passou por reorganizações e as receitas geradas pelos clubes foram ampliadas, tanto nas cotas de televisão quanto nos patrocínios.

A Copa do Brasil e a Oficialização do Campeonato Brasileiro

O Campeonato Brasileiro havia passado por diversas fórmulas e nomes diferentes, muitas vezes sendo inchado e confuso. A partir de 1987, com a criação da Copa União, houve uma redução no número de participantes do campeonato. Isso fez com que clubes de regiões menos populares, que entravam na competição nacional por serem campeões estaduais, deixassem de enfrentar os clubes considerados “grandes” e tradicionais. Essa mudança representava um risco para algumas agremiações, podendo até mesmo levá-las à extinção.

Para acalmar o descontentamento desses clubes e das federações de menor expressão, a CBF viu-se obrigada a criar uma competição nacional secundária em 1989, a Copa do Brasil, que permitia a entrada de clubes de todos os estados. Com essa criação, a CBF decidiu oficializar o principal torneio nacional de futebol do país como Campeonato Brasileiro pela primeira vez. Essa medida foi tomada para deixar claro qual era o torneio de caráter nacional que daria ao seu vencedor o título de campeão brasileiro, além de evitar confusões com nomes antigos como Copa Brasil.

A Controvérsia da Copa João Havelange

Em 1999, um novo sistema de rebaixamento foi adotado, similar ao utilizado no Campeonato Argentino de Futebol. No entanto, este sistema durou apenas uma temporada. Durante a primeira fase da competição, foi descoberto que o jogador Sandro Hiroshi estava registrado de forma irregular. Diante deste escândalo, a CBF decidiu punir a equipe do jogador, o São Paulo, anulando jogos em que participou e alterando os resultados imediatamente. Internacional e Botafogo ganharam pontos, o que resultou no rebaixamento do Gama.

O Gama, então, processou a CBF e conseguiu garantir sua vaga na edição de 2000, impedindo a entidade de organizar o campeonato. Assim, o Clube dos 13 organizou o torneio daquele ano, sob o nome de Copa João Havelange. Esta competição foi controversa, com 116 times divididos em 4 módulos. Este foi um período marcado por mudanças na estrutura e organização do Campeonato Brasileiro, refletindo os desafios e controvérsias enfrentadas pelo futebol brasileiro nesse período.

O Brasileirão de Pontos Corridos

A partir de 2003, o Campeonato Brasileiro de Futebol passou por novas mudanças significativas, adotando o sistema de pontos corridos que se mantém até os dias atuais. Antes dessa data, uma das características históricas do campeonato era a falta de padronização no sistema de disputa, com mudanças anuais nas regras e no número de participantes. No entanto, em 2003, o formato de pontos corridos foi estabelecido: as equipes disputam dois turnos e aquela que acumular o maior número de pontos é declarada campeã. Os critérios de desempate podem variar, desde sequência de gols até número de vitórias. O Cruzeiro foi o campeão desta temporada inaugural do sistema de pontos corridos.

Escândalo da Máfia do Apito em 2005

O ano de 2005 ficou marcado pelo escândalo da Máfia do Apito. Durante o campeonato, o árbitro Edílson Pereira de Carvalho foi preso em uma operação da polícia por manipular resultados de jogos em que atuou, visando beneficiar algumas equipes nos resultados de seus jogos. Em uma decisão polêmica e inédita na história do futebol, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) determinou a anulação dos 11 jogos apitados pelo árbitro.

Consolidação dos Pontos Corridos e Reconhecimento Internacional

Na edição de 2006, o número de participantes foi reduzido para 20, um formato que a própria CBF confirmou como “definitivo”. Neste formato, as quatro melhores equipes se classificam para a Copa Libertadores, enquanto as quatro piores são rebaixadas para a Série B. Desde 2007, cada temporada ocorre entre maio e dezembro, com 38 rodadas e 380 partidas, sendo uma das ligas mais longas e competitivas do mundo. A maior pontuação desde então foi do Flamengo em 2019, com 90 pontos.

Reconhecimento Internacional e Controvérsias

Com a implementação dos pontos corridos em 2003, Cruzeiro, Santos, Corinthians, São Paulo, Flamengo, Fluminense, Palmeiras e Atlético Mineiro conquistaram o título de campeão brasileiro. O Campeonato Brasileiro foi reconhecido internacionalmente, sendo classificado como o segundo melhor campeonato de futebol do mundo em 2012, superado apenas pela La Liga.

Controvérsias e Riscos de Rebaixamento

Em 2013, o Fluminense esteve em risco de rebaixamento devido ao seu desempenho na Série A, o que o faria ser o primeiro time a cair um ano após ser campeão. No entanto, o clube foi salvo quando o STJD retirou pontos do Flamengo e da Portuguesa por escalação irregular de jogadores, André Santos e Héverton, respectivamente, na última rodada do campeonato. O Fluminense teria sido rebaixado se esses pontos não fossem retirados de seus adversários.

Posteriormente, uma liminar na Justiça Comum determinou a devolução dos pontos da Portuguesa, que também havia sido beneficiada anteriormente com uma liminar ao Flamengo. Isso colocou novamente o Fluminense no grupo de clubes rebaixados, mas com a decisão unânime dos oito auditores do STJD, o resultado da primeira instância foi mantido.

Uma das ligas mais competitivas do mundo

O futebol brasileiro passou por muitas fases desde a fundação da Taça Brasil em 1959 até os dias atuais. O Campeonato Brasileiro evoluiu, enfrentou desafios e mudanças administrativas, mas sempre manteve seu lugar como uma das competições mais emocionantes do mundo.

Desde os primeiros anos de classificação confusa até a consolidação dos pontos corridos, a competição passou por diversas mudanças, refletindo os desafios e as demandas do futebol brasileiro. Com reconhecimento internacional e uma liga considerada uma das mais competitivas do mundo, o Brasileirão continua a cativar milhões de torcedores e a escrever novos capítulos em sua história a cada temporada.