Nos meados do século XX, o futebol brasileiro buscava seu caminho rumo à organização de um campeonato nacional que abarcasse os melhores clubes do país.

Tudo começou em 1959 com a Taça Brasil, uma competição que reunia os campeões estaduais do país. Porém, devido às dificuldades logísticas num país de dimensões continentais e às limitações econômicas da época, a Taça Brasil era mais uma celebração dos campeões estaduais do que um embate entre os melhores times do Brasil.

O futebol brasileiro clamava por um campeonato que integrasse as principais equipes e, que ao mesmo tempo, fosse lucrativo e cativante para os clubes e torcedores.

A Virada de 1966

O marco para essa mudança foi a conquista do Cruzeiro na Taça Brasil de 1966, que desestabilizou a hegemonia dos times paulistas e cariocas. O título do clube mineiro foi crucial, pois apresentou ao país uma equipe jovem e talentosa, ameaçando a predominância do eixo Rio-São Paulo. Além disso, o fracasso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966 impulsionou a necessidade de reformulação.

Assim, em 1967, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, antes regional, se expandiu para a participação de clubes de outros estados. Este torneio visava integrar os principais clubes do país, diferentemente da Taça Brasil, que se limitava aos campeões estaduais. A ampliação também foi motivada pelo desinteresse de alguns clubes no Torneio Rio-São Paulo, que terminou em 1966 com quatro campeões devido à falta de datas para um torneio de desempate.

A ideia do Robertão nasceu da visão de João Havelange e Otávio Pinto Guimarães, que buscavam ampliar o alcance do futebol e fortalecer a rivalidade entre clubes de diferentes regiões. O torneio foi a resposta à crescente demanda por uma competição nacional abrangente, que reunisse os principais times do país independentemente de seus títulos estaduais.

Elenco do cruzeiro que venceu a Taça Brasil 1966

Elenco do cruzeiro que venceu a Taça Brasil 1966

Torneio Roberto Gomes Pedrosa: formato e participantes

O Robertão contava com 16 clubes divididos em dois grupos. As equipes se enfrentavam em partidas de ida e volta dentro de seus grupos e os quatro melhores de cada grupo avançavam para a fase final. A partir daí, os times disputavam as semifinais e finais em um emocionante sistema de mata-mata, com jogos de ida e volta.

A tabela do Torneio Roberto Gomes Pedrosa foi divulgada em janeiro de 1967, com um início programado para março. No entanto, questões econômicas e logísticas ainda pairavam sobre a competição. O Cruzeiro, por exemplo, cogitou desistir para priorizar a Libertadores, enquanto Santos abriu mão da participação devido a conflitos de datas.

O “Robertão” de 1967

A primeira edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967 contou com a participação de quinze clubes de cinco estados, reunindo os principais times do Brasil. Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Fluminense, Santos e outros nomes de peso se enfrentaram nesse torneio inovador. A média de público por jogo ultrapassou vinte mil pessoas, indicando o sucesso e interesse gerado.

Evolução e Consolidação

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa continuou evoluindo. Em 1968, dezessete clubes de sete estados disputaram o torneio, com a inclusão de Bahia e Náutico, entre outros. Com a experiência positiva da primeira edição, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, era pré-CBF) decidiu adotar o modelo como o principal campeonato nacional já em 1968, com o nome oficial de “Taça de Prata”.

O Campeonato Nacional de Clubes

A partir de 1968, o “Robertão” se tornou o Campeonato Nacional de Clubes, considerado o mais importante do Brasil. A Taça Brasil, que desde 1959 tinha esse status, perdeu seu lugar, tornando-se secundária. Esta transição culminou em 1971, quando a CBF oficializou a unificação dos títulos nacionais, reconhecendo todas as edições do Torneio Roberto Gomes Pedrosa/Taça de Prata como válidas para o Campeonato Brasileiro. Em 24 de setembro de 1979, a CBD também foi reestruturada e renomeada para Confederação Brasileira de Futebol (CBF), seguindo um decreto da FIFA que exigia que entidades nacionais focassem exclusivamente no futebol.

Os melhores times em uma única competição

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa/Taça de Prata foi um marco pela reunião das melhores equipes do Brasil em uma única competição. Foi nesse período que Pelé marcou seu milésimo gol em um jogo histórico contra o Vasco da Gama. Além disso, a competição foi marcada por sua lisura e estabilidade nas regras, ao contrário dos campeonatos posteriores.

Edições Memoráveis e Momentos Marcantes

Cada edição do Robertão foi marcada por momentos épicos e times memoráveis:

1967
O Palmeiras, liderado por Ademir da Guia, Dudu e César Maluco encantou o país com seu futebol ofensivo e goleador, culminando na conquista do título após superar o Internacional na final.

1968
O Santos, time de Pelé, Jairzinho e Carlos Alberto dominou a competição com um show de habilidade e jogadas de efeito, sagrando-se campeão com um dos melhores times da história.

1969
O Botafogo, conhecido como “O Glorioso”, entusiasmou o país com seu futebol mágico e eficiente, liderado por Jairzinho, Paulo César Caju e Gérson e levou o troféu para casa.

1970
Em uma final emocionante contra o Atlético Mineiro, o Fluminense se consagrou campeão com um futebol consistente e aguerrido, liderado por Félix, Paulo César Carpegiani e Renato Gaúcho.

1971
Após o sucesso do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1971 foi oficializado o Campeonato Nacional de Clubes, que deu continuidade à visão inicial do torneio. Isso marcou um momento crucial na história do futebol brasileiro, pois proporcionou uma competição contínua entre os principais times do país, independentemente de suas conquistas estaduais.

Fulminense foi o último campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa

Fulminense foi o último campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa

Legado e Impacto

O Robertão desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do futebol brasileiro. A competição serviu como um laboratório para a criação do Campeonato Nacional de Clubes, oficializado em 1971. Além disso, contribuiu significativamente para a profissionalização do esporte, impulsionando a organização dos clubes e a valorização dos jogadores.

Os números:

  • Total de edições: 4
  • Total de times participantes: 26
  • Total de jogos: 374
  • Gols marcados: 1.177
  • Maior campeão: Palmeiras (2 títulos)
  • Artilheiro: Pelé (11 gols)

Indo Além do Futebol

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa foi mais do que um simples campeonato de futebol. Representou um marco cultural de profunda relevância, unindo o país em torno da paixão pelo esporte e refletindo as mudanças sociais e políticas da época, como o crescimento da urbanização e o surgimento de uma nova geração de jogadores talentosos.

Impacto Cultural do Torneio Roberto Gomes Pedrosa

  • Explosão da popularidade do futebol em todo o país, com maior cobertura dos jogos na mídia da época e um aumento do público nos estádios.
  • Crescimento exponencial da mídia esportiva, com maior número de programas e colunas dedicadas ao futebol.
  • Surgimento de novos ídolos do futebol, como Pelé, Jairzinho, Rivellino e tantos outros que marcaram a época.
  • Aumento da rivalidade entre clubes de diferentes regiões, criando uma atmosfera vibrante e emocionante nos jogos.
  • Consolidação do futebol como um importante elemento da cultura brasileira, unindo pessoas de todas as classes sociais e origens.

Mais do que um simples Torneio

O Torneio Roberto Gomes Pedrosa foi um marco na história do futebol brasileiro. Mais do que um simples campeonato, foi um movimento cultural de profunda relevância que uniu o país, profissionalizou o esporte e deu os primeiros passos para a criação do Campeonato Brasileiro Série A. Sua influência perdura até hoje no sucesso do futebol nacional, que coloca o Brasil entre as principais potências do futebol mundial.

Troféu do Torneio Roberto Gomes Pedrosa

Troféu do Torneio Roberto Gomes Pedrosa