Confederação Brasileira de Futebol (CBF):
Ronaldo Fenômeno Fora da CBF: Bastidores de um Jogo de Cartas Marcadas

Em 12 de março de 2025, o futebol brasileiro testemunhou um desfecho inesperado: Ronaldo Nazário, o Fenômeno, abandonou sua tentativa de presidir a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A notícia, revelada pela jornalista Monique Danello, da TNT Sports, expôs uma realidade incômoda: o comando da CBF é um território quase inacessível para quem não integra seu círculo fechado de poder.
A Tentativa Frustrada de Ronaldo Fenômeno
O que levou um ícone global, com duas Copas do Mundo no currículo, a desistir antes mesmo de formalizar sua candidatura? A resposta está em um sistema eleitoral viciado, interesses financeiros arraigados e uma resistência ferrenha à renovação.
Quando Ronaldo sinalizou, no final de 2024, seu interesse em liderar a CBF, ele trouxe consigo uma proposta ambiciosa: modernizar a gestão e devolver ao futebol brasileiro o brilho que o consagrou mundialmente. O ex-jogador já administrou clubes como o Valladolid na Espanha e o Cruzeiro.
Ronaldo investiu meses articulando apoios entre as 27 federações estaduais e os clubes das Séries A e B. Sua visão incluía maior transparência financeira e investimentos nas categorias de base – ideias que, em teoria, poderiam seduzir os dirigentes.
A realidade, porém, foi implacável. Das 27 federações, 23 se recusaram a ouvi-lo, declarando fidelidade irrestrita a Ednaldo Rodrigues, presidente efetivado em 2022 após um período interino. As quatro restantes optaram por um silêncio indiferente, sem qualquer resposta.
Pelo estatuto da CBF, Ronaldo precisava de pelo menos quatro federações e quatro clubes das duas principais divisões para registrar sua candidatura. Sem esse respaldo mínimo, sua campanha desmoronou antes de ganhar forma. Em um comunicado sucinto, ele reconheceu a falta de apoio e anunciou sua retirada, deixando no ar a frustração de quem esperava ao menos competir.
Clubes Brasileiros se Unem para Reduzir o Poder da CBF e Reivindicar Direitos Comerciais
O Sistema Eleitoral da CBF: Democracia ou Coroação?
As eleições da CBF estão longe de refletir um processo aberto. Desde 1989, quando José Maria Marin assumiu o comando, o padrão é invariável: um único candidato emerge vitorioso, em um ritual que mais se assemelha a uma aclamação do que a uma disputa genuína. Esse modelo não é obra do acaso – ele foi desenhado para concentrar o poder nas mãos das federações estaduais, que dominam a entidade há décadas.
A estrutura de votação é reveladora: cada uma das 27 federações Estaduais tem peso 3, enquanto os 20 clubes da Série A tem peso 2 cada, e os 20 da Série B, apenas peso 1.
Com o apoio declarado de 23 federações, Ednaldo Rodrigues garante 69 votos de largada. Para vencê-lo, Ronaldo precisaria de 72 – uma meta inalcançável, já que os clubes, mesmo em bloco unificado, somariam apenas 60 votos (40 da Série A e 20 da Série B).
O cálculo é simples e cruel: o sistema torna a vitória de um outsider matematicamente impossível sem o aval das federações. Assim, a CBF permanece um feudo onde o poder se recicla entre os mesmos atores, sufocando qualquer tentativa de mudança.
Ronaldo Fenômeno Oficializa Candidatura à Presidência da CBF: O Que Esperar?
Por Que Ronaldo Foi Rejeitado?
A barreira enfrentada por Ronaldo não foi apenas política – ela tem raízes financeiras. A CBF destina anualmente repasses significativos às federações estaduais, recursos que sustentam suas operações e fortalecem a lealdade à gestão vigente. Ednaldo Rodrigues, que assumiu em meio à crise institucional de 2021 e consolidou seu mandato em 2022, manteve esse fluxo intacto, assegurando a estabilidade que os dirigentes regionais tanto prezam.
Em 2023, por exemplo, a CBF distribuiu cerca de R$ 190 milhões às federações, segundo balanços oficiais, um montante que explica a relutância em arriscar uma troca de comando.
Para esses líderes, Ronaldo representa uma incógnita. Suas propostas de reforma, embora atraentes para torcedores, pode redirecionar verbas ou alterar privilégios estabelecidos para as federações. Diante disso, as federações escolheram o caminho seguro: preservar o que já funciona em vez de apostar em um futuro incerto. O receio de represálias de Ednaldo, caso ele permanecesse no poder, também pesou na decisão, consolidando o apoio ao status quo.
Atacantes Implacáveis – Ronaldo, o Fenômeno
Política no Futebol: Um Campo de Areia Movediça
A incursão de Ronaldo na política da CBF revelou uma verdade que transcende o esporte: no futebol brasileiro, como em Brasília, o sucesso depende menos de mérito e mais de alianças estratégicas. Seu prestígio como jogador – com gols históricos em Copas e uma carreira que o levou ao Hall da Fama da FIFA – não encontrou eco nos bastidores da confederação. Em poucos meses, ele descobriu que o jogo ali é disputado em um terreno movediço, onde as regras favorecem quem já conhece os atalhos.
Ao desistir, Ronaldo deixou um desabafo que ressoou como um alerta: o sistema é bruto, implacável com quem tenta desafiá-lo de fora. Sua retirada expôs a dificuldade de romper com uma estrutura que, há décadas, resiste às pressões por renovação.
A CBF Pode Mudar?
A desistência de Ronaldo reacende um debate antigo: há espaço para uma transformação real na CBF? O histórico sugere que não. Escândalos como a prisão de José Maria Marin em 2015, por corrupção na FIFA, ou a turbulência judicial que quase derrubou Ednaldo em 2023, não abalaram os alicerces da entidade. As federações continuam a ditar os rumos, e o modelo eleitoral, criado para protegê-las, perpetua um ciclo de continuidade.
O futebol brasileiro, berço de gênios como Pelé e Neymar, clama por uma gestão que espelhe sua grandeza. Torcedores sonham com mais transparência, investimentos na base e uma CBF menos refém de interesses regionais. Mas enquanto as federações detiverem as rédeas, mudanças estruturais parecem tão distantes quanto um gol anulado pelo VAR – uma possibilidade teórica que raramente se concretiza. Cabe aos apaixonados pelo esporte perguntar: até quando esse roteiro se repetirá? Deixe sua opinião nos comentários.