Rivalidade Estatudal:
Paysandu x Remo: A Intensa Rivalidade por Trás do Clássico Rei da Amazônia

O futebol brasileiro é conhecido mundialmente por suas rivalidades apaixonantes, mas poucas conseguem rivalizar com a intensidade do confronto entre Paysandu x Remo, também conhecido como Re-Pa ou Clássico Rei da Amazônia. Este embate, disputado na cidade de Belém, capital do Pará, é mais do que apenas um jogo: é um evento cultural que mobiliza torcedores, divide famílias e reflete a paixão futebolística da região Norte do Brasil.
A Origem da Rivalidade entre Paysandu e Remo
Com mais de um século de história e considerado o clássico mais disputado do mundo, o Re-Pa é um marco no esporte nacional. Mas o que torna esse duelo tão especial?
A história do clássico Rei da Amazônia começou em 14 de junho de 1914, quando Remo e Paysandu se enfrentaram pela primeira vez, em um jogo válido pelo Campeonato Paraense. Naquela ocasião, o Remo venceu por 2 a 1, marcando o início de uma rivalidade que só cresceria com o passar dos anos. Curiosamente, o Paysandu havia sido fundado poucos meses antes, em fevereiro de 1914, com o objetivo claro de desafiar a supremacia do Remo, que já era um clube estabelecido e havia conquistado o estadual de 1913.
A rivalidade ganhou contornos mais definidos a partir de um episódio em 1915, quando uma troca de correspondências entre os clubes acabou azedando as relações. O Remo propôs um amistoso beneficente, mas o Paysandu respondeu com provocações, levando o Remo a romper quaisquer laços amistosos. Desde então, o que começou como uma competição esportiva se transformou em uma batalha de orgulho entre os torcedores azulinos (Remo) e bicolores (Paysandu).
O Clássico Mais Disputado do Mundo
Um dos fatos mais impressionantes sobre o Re-Pa é que ele detém o título de clássico mais disputado do futebol mundial, com mais de 775 partidas realizadas até o início de 2025. Esse número supera rivalidades icônicas como Flamengo x Fluminense ou Corinthians x Palmeiras. A frequência dos confrontos se deve à predominância dos dois clubes no futebol paraense, disputando finais do Campeonato Paraense e se enfrentando em competições nacionais, como a Série C e a Copa Verde.
Em termos de vitórias, o Remo leva uma leve vantagem histórica, com cerca de 268 triunfos contra 243 do Paysandu, além de 264 empates, segundo dados consolidados até 2024. Nos gols, o equilíbrio também é notável: o Remo soma aproximadamente 980 tentos, enquanto o Paysandu está logo atrás, com 979. Esses números refletem a competitividade do clássico e alimentam a paixão das torcidas, que vivem cada jogo como uma final.
Momentos Históricos do Clássico Rei da Amazônia
Ao longo de mais de 110 anos, o Re-Pa acumula momentos que entraram para a história do futebol brasileiro. Confira alguns dos mais marcantes:
A Maior Goleada: Paysandu 7 x 0 Remo (1945)
Em 22 de julho de 1945, o Paysandu aplicou a maior goleada da história do clássico: um impressionante 7 a 0, em pleno Estádio Evandro Almeida (Baenão), casa do Remo. O jogo, válido pelo Campeonato Paraense, é lembrado com orgulho pelos bicolores e ainda hoje é usado como provocação contra os rivais azulinos.
O Tabu de 33 Jogos do Remo (1993-1997)
Entre 31 de janeiro de 1993 e 7 de maio de 1997, o Remo impôs um impressionante tabu de 33 jogos sem perder para o Paysandu. Durante esse período, foram 21 vitórias azulinas e 12 empates, com o Leão conquistando um pentacampeonato estadual. O número 33 tornou-se um símbolo de glória para os remistas e um pesadelo para os torcedores do Papão.
O Acesso na Série C (2021)
Em janeiro de 2021, o Re-Pa ganhou contornos nacionais com um duelo decisivo pela Série C. O Remo venceu por 1 a 0, com gol de Salatiel, garantindo o acesso à Série B e deixando o Paysandu para trás. O jogo, disputado sem público devido à pandemia, foi um marco recente que intensificou ainda mais a rivalidade.
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As Finais Memoráveis do Parazão
Os dois clubes já decidiram o Campeonato Paraense em dezenas de ocasiões. Um exemplo recente foi a final de 2022, quando o Remo goleou o Paysandu por 3 a 0 no primeiro jogo e segurou a vantagem na volta, conquistando o título na Curuzu, estádio do rival, em meio a um apagão nos refletores que ficou famoso.
A Cultura e a Paixão das Torcidas
O Clássico Rei da Amazônia transcende o campo de jogo e se enraíza na cultura paraense. Em 4 de maio de 2016, o Re-Pa foi declarado patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará, reconhecendo sua importância como expressão do povo local. Nos dias de clássico, Belém se transforma: as ruas se enchem de azul-marinho e branco-celeste, as provocações ecoam nas redes sociais e o Mangueirão, principal estádio da cidade, vira um caldeirão de emoções.
A proximidade física entre os estádios também alimenta a rivalidade. O Baenão (Remo) e a Curuzu (Paysandu) estão separados por apenas 250 metros, uma das menores distâncias entre estádios de rivais no mundo. Essa vizinhança intensifica o clima de competição, com torcedores vivendo o clássico literalmente porta a porta.
A torcida do Remo, conhecida como Fenômeno Azul, e a do Paysandu, chamada Fiel Bicolor, são famosas por suas coreografias impressionantes e pelo apoio incondicional. Em jogos no Mangueirão, o estádio frequentemente se divide em duas metades quase perfeitas, criando um espetáculo visual único no futebol brasileiro.
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Estatísticas e Curiosidades do Re-Pa
Para os amantes de números, o Re-Pa oferece um vasto material de análise:
Primeiro gol: Marcado por Rubilar, do Remo, em 1914, em um gol olímpico.
Maior artilheiro: Hélio, do Paysandu, com 47 gols no clássico.
Maior público no Baenão: 33.487 torcedores, em 1976, na vitória do Remo por 5 a 2.
Jogo internacional: Em 1977, Remo e Paysandu empataram em 1 a 1 no Suriname, no primeiro Re-Pa fora do Brasil.
Esses dados mostram como o clássico é rico em histórias e recordes, alimentando o imaginário de gerações de torcedores.
Por Que o Re-Pa é Único?
O que torna o Paysandu x Remo tão especial? Além da longevidade e da quantidade de jogos, é a paixão visceral que move as torcidas. Mesmo em momentos de crise esportiva, como disputas na Série C ou eliminações em competições nacionais, o clássico mantém sua relevância. Ele é um campeonato à parte, onde vencer o rival muitas vezes vale mais do que um título.
Outro fator é o equilíbrio. Apesar da vantagem histórica do Remo, o Paysandu já viveu períodos de domínio, como entre 2000 e 2002, quando ficou 11 jogos invicto contra o rival. Essa alternância de supremacia mantém a rivalidade viva e imprevisível.
O Futuro do Clássico Rei da Amazônia
À medida que o futebol brasileiro evolui, Remo e Paysandu buscam recuperar o protagonismo nacional que já tiveram — o Paysandu com sua histórica participação na Libertadores de 2003 e o Remo com campanhas marcantes em competições como a Copa João Havelange. O Re-Pa de 2025, previsto para o Campeonato Paraense, já gera expectativas, com as torcidas ansiosas por mais capítulos dessa saga.
Seja no Mangueirão lotado, na Curuzu ou no Baenão, o Clássico Rei da Amazônia continuará sendo um símbolo de paixão, história e identidade para o povo paraense. Para quem ama futebol, assistir a um Paysandu x Remo ao vivo é uma experiência obrigatória — um mergulho na essência do esporte mais popular do Brasil.