Quando se fala em futebol brasileiro, especialmente no Corinthians, talento nunca é suficiente. A pressão, as expectativas e a cobrança da torcida fazem parte do pacote. E é exatamente isso que acontece quando o assunto é a dupla Memphis Depay e Yuri Alberto. Dois jogadores de extrema qualidade, inegavelmente bons de bola, mas que vivem realidades diferentes dentro do clube e na opinião da torcida.

Uma dupla de respeito

Não dá pra negar: Depay e Alberto formam uma ótima dupla. Dentro de campo, a qualidade salta aos olhos. Yuri Alberto é um jogador muito técnico, com boa visão de jogo e que consegue ser decisivo em diversos momentos.

Mesmo quando vivia uma fase ruim, sempre teve quem reconhecesse o seu valor, o que lhe faltava de técnica sobrava de raça, evidenciando que a qualidade de Yuri Alberto sempre foi evidente, independentemente do momento.

Memphis Depay dispensa apresentações. Desde que chegou ao Corinthians, o jogador carrega o selo de craque — e também o peso de ser a contratação mais cara em um clube que vive dificuldades financeiras.

Memphis Depay: craque, caro e questionado

Se existe uma unanimidade em relação a Memphis Depay, é a qualidade técnica. Mas junto com ela, vem a eterna discussão: vale o que o Corinthians paga por ele? Afinal, talento sem entrega nos jogos decisivos vira motivo de questionamento.

O torcedor lembra bem: “O Depay é ótimo jogador. Isso aí não tá em discussão. A questão é: quanto ele custa e o que ele entrega?”

Essa reflexão fica ainda mais forte quando se olha para jogos importantes, que definem temporadas, classificações e títulos.

Jogos decisivos: o calcanhar de Aquiles

O episódio mais emblemático dessa discussão aconteceu em Guayaquil, no Equador. O Corinthians enfrentava o Barcelona local em um duelo decisivo pela fase preliminar da Libertadores. O jogo valia vaga na fase de grupos.

O placar marcava 1 a 0 para o Barcelona. E o que acontece? Memphis Depay perdeu um gol inacreditável, cara a cara com o goleiro. Um lance que poderia mudar o rumo da história. Um erro que não se apaga da memória do torcedor.

A partir daí, fica o questionamento: de que adianta brilhar contra times menores, como o Vasco com time misto, se nos momentos mais importantes ele falha? A torcida espera que uma contratação desse nível decida jogos importantes.

Contra o Palmeiras: brilho ofuscado

Outro momento marcante foi contra o Palmeiras, em pleno Allianz Parque. O Corinthians saiu campeão, em parte, graças a uma jogada em que Memphis Depay “subiu na bola”. Mas o torcedor mais atento lembra: o gol decisivo foi de Yuri Alberto, e o goleiro Hugo Souza ainda pegou um pênalti fundamental.

Foi o time que venceu. Não apenas uma jogada individual.

Como bem disse um comentarista na época: “Subiu na bola? Ok. Mas o time foi campeão porque o goleiro pegou o pênalti e o Yuri Alberto fez o gol. Não foi porque subiu na bola.”

A imagem que fica: craque ou marketing?

Existe um fenômeno curioso envolvendo Memphis Depay no Corinthians: a construção de uma “agenda positiva”. Ou seja, existe um esforço — de parte da mídia, do clube ou até da torcida — em destacar o lado bom do jogador, muitas vezes ignorando as falhas nos momentos importantes.

Mas o torcedor comum, aquele que sofre a cada jogo, não esquece dos gols perdidos, das atuações apagadas e da ausência em decisões. Para a torcida melhor do que subir na bola e provocar o adversário é decidir jogos importantes.

Até porque, em um clube como o Corinthians, ser bom contra o Vasco não tem o mesmo peso que decidir contra o Palmeiras ou garantir vaga na Libertadores, onde jogam os melhores times do continente.

A postura de Depay em campo: um problema a mais?

Além das falhas técnicas, outro ponto que incomoda a torcida é a postura de Depay. Em um jogo que o Corinthians venceu por 3 a 0, após ter perdido um gol feito, ele ainda encontrou espaço para reclamar dos companheiros e questionar o comportamento do time. Além disso, Memphis ainda culpou a arbitragem por uma entrada dura sofrida em que o VAR não foi chamado.

Dar desculpas, culpar arbitragem e criticar seus companheiros de time é o tipo de atitude que pega mal para o torcedor corintiano. Esse tipo de atitude não combina com o espírito corintiano de raça, luta e união dentro de campo.

O torcedor corintiano historicamente não cobra um futebol vistoso e ofensivo do time, mas cobra que o time lute com raça os 90 minutos. “Se não for sofrido não é Corinthians”, diz a torcida alvinegra. Portanto, dar desculpas e não assumir a responsabilidade é uma atitude que historicamente desagrada a torcida corintiana.

Yuri Alberto: o jogador que cresce nos grandes jogos

Se Memphis Depay vive altos e baixos nos momentos decisivos, Yuri Alberto tem ganhado respeito justamente por crescer nos jogos grandes. Foi dele o gol que garantiu a vitória sobre o Palmeiras. É dele a imagem de frieza e eficiência quando o time mais precisa.

Yuri Alberto talvez não tenha o mesmo marketing, o mesmo hype ou os holofotes de Depay. Mas entrega futebol de verdade. Entrega resultado. E, no final das contas, é isso que o torcedor do Corinthians quer.

Talento é obrigação, decisão é diferencial

A história de Memphis Depay e Yuri Alberto dentro do Corinthians resume bem o futebol moderno. Não basta ter talento. Em um clube gigante, cercado de pressão e paixão, o que fica para a história são os momentos decisivos.

Depay é um craque? Sim. Mas precisa entregar mais quando o jogo vale mais. Precisa decidir. Precisa se colocar no mesmo nível de ídolos corintianos que se eternizaram por gols e atuações em finais, clássicos e Libertadores.

Já Alberto caminha firme para esse caminho. Menos badalado, mais eficiente. E com a confiança da torcida crescendo a cada jogo importante. No Corinthians, não basta jogar bem. Tem que jogar para decidir quando mais importa.