Em uma recente coletiva, o renomado técnico espanhol Pep Guardiola criticou a alta rotatividade de treinadores no futebol brasileiro, classificando a prática como "prejudicial para o desenvolvimento do esporte". O atual comandante do Manchester City destacou que a instabilidade nas comissões técnicas reflete uma cultura imediatista e sugeriu que, em vez de demitirem treinadores, os clubes deveriam "revisar a gestão de seus dirigentes".

As Declarações de Guardiola

Durante entrevista coletiva nesta segunda-feira, Guardiola foi questionado sobre o cenário do futebol sul-americano, com foco nos recentes casos de demissões de treinadores no Brasil. O técnico, conhecido por defender projetos de longo prazo, foi enfático: 

No Brasil, há uma obsessão por resultados imediatos que sufoca qualquer possibilidade de trabalho consistente. Treinadores são demitidos após poucas derrotas, mesmo em fases normais de adaptação. Se os clubes querem mudança, deveriam começar demitindo os dirigentes que não sabem planejar.

Guardiola também mencionou a contradição entre a qualidade técnica dos jogadores brasileiros e a falta de estabilidade nas equipes:

O Brasil produz alguns dos maiores talentos do mundo, mas os clubes não criam ambiente para que esses jogadores se desenvolvam. Como um treinador pode implementar um estilo de jogo se não tem tempo para treinar o time?

Contexto: A Rotatividade dos Técnicos no Futebol Brasileiro

A crítica de Guardiola ecoa um problema crônico do futebol brasileiro. Segundo dados da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em 2024, a média de permanência de um técnico na Série A do Brasileirão foi de apenas 4,2 meses. Casos recentes chamaram atenção:

  • Fernando Diniz (ex-Cruzeiro): Demitido em janeiro de 2025 após seis jogos no Campeonato Mineiro.

  • Abel Ferreira (Palmeiras): Único treinador entre os 20 clubes da Série A a permanecer no cargo por mais de dois anos.

  • Renato Gaúcho (ex-Flamengo): Dispensado em 2024 após não conquistar títulos em sete meses.

Para especialistas, a pressão por títulos, a influência de torcidas organizadas e a falta de planejamento estratégico são os principais motivos dessa instabilidade.

Por que Guardiola se Pronunciou?
Apesar de atuar na Europa, Guardiola mantém vínculos com o futebol sul-americano, especialmente através de parcerias entre o Manchester City e clubes do Grupo City Football (como o Bahia). Além disso, o técnico espanhol é admirado no Brasil por seu estilo de jogo ofensivo, inspirado em ícones como Telê Santana e João Saldanha.

Sua crítica surge em um momento em que o futebol brasileiro tenta se modernizar, com clubes adotando modelos de gestão europeus. No entanto, a cultura do curto-prazo ainda predomina.

Reações no Brasil à posição de Guardiola

As declarações de Guardiola dividiram opiniões no meio futebolístico brasileiro:

  • Dirigentes: A Liga dos Clubes emitiu nota afirmando que “a rotatividade é consequência da alta competitividade e das demandas financeiras”.

  • Treinadores: Tite, ex-técnico da Seleção Brasileira, apoiou Guardiola: “Projetos exigem tempo. No Brasil, querem mudar o técnico como se troca de roupa.”

  • Torcedores: Nas redes sociais, hashtags como #DemiteDirigente viralizaram, com fãs criticando gestões “amadoras”.

O Caso do Cruzeiro: Um Exemplo Recente

O Cruzeiro, clube mineiro que demitiu Fernando Diniz em janeiro após uma campanha irregular no Mineiro, virou símbolo do problema. A diretoria alegou “falta de resultados”, mas a saída de Diniz após apenas 45 dias no cargo levantou questionamentos sobre as expectativas irreais impostas aos técnicos. 

Soluções Possíveis
Guardiola sugeriu medidas para reduzir a rotatividade: Contratos com metas realistas: Estabelecer prazos claros para avaliação de resultados.

  • Apoio institucional: Diretorias devem alinhar expectativas com treinadores e torcida.

  • Investimento em base: “Se os clubes formarem jogadores, pressionarão menos os técnicos por reforços caros”, disse. 

Tempo para os Técnicos: Um Debate Necessário

As declarações de Guardiola reacenderam um debate urgente no futebol brasileiro. Enquanto clubes buscam soluções mágicas para crises, a falta de planejamento estrutural continua a ser o maior obstáculo. Como bem resumiu o técnico espanhol: “Demitir treinadores é fácil. Difícil é construir algo que dure.” Enquanto isso, a pergunta que fica é: o Brasil está disposto a mudar?