Futebol Feminino:
Copa do Mundo Feminina 2023: A Evolução das Seleções e o Futuro da Competição

A Copa do Mundo Feminina de 2023, realizada entre 20 de julho e 20 de agosto na Austrália e na Nova Zelândia, marcou um divisor de águas para o futebol feminino global. Com um número recorde de 32 seleções participantes, a competição não apenas consolidou o crescimento técnico e tático das equipes, mas também apontou caminhos promissores para o futuro da modalidade.
A Evolução das Seleções na Copa do Mundo Feminina
Desde sua estreia em 1991, na China, a Copa do Mundo Feminina passou por transformações significativas. Inicialmente com apenas 12 seleções, o torneio viu os Estados Unidos se consagrarem como pioneiros ao derrotarem a Noruega na final. Nas décadas seguintes, o número de participantes cresceu — de 16 em 1999 para 24 em 2015, até alcançar as 32 equipes em 2023. Esse aumento reflete não apenas a expansão do futebol feminino, mas também o investimento crescente em infraestrutura, formação de atletas e profissionalização.
O Domínio Histórico e as Novas Potências
Os Estados Unidos, com quatro títulos (1991, 1999, 2015 e 2019), sempre foram a referência máxima da competição, seguidos pela Alemanha, bicampeã (2003 e 2007). Noruega (1995) e Japão (2011) também deixaram suas marcas com conquistas históricas. No entanto, a edição de 2023 revelou um cenário mais equilibrado. A eliminação precoce das americanas nas oitavas de final, diante da Suécia, e a ascensão de seleções como a Espanha, campeã inédita ao vencer a Inglaterra por 1 a 0 na final, mostram que o domínio tradicional está sendo desafiado.
A Espanha, impulsionada por talentos como Alexia Putellas e Aitana Bonmatí — esta última eleita a melhor jogadora do torneio —, demonstrou uma evolução técnica impressionante. Sua vitória simboliza o sucesso de investimentos a longo prazo em categorias de base e ligas nacionais competitivas, como a Liga F espanhola. Da mesma forma, a Inglaterra, vice-campeã, consolidou seu status como potência emergente após o título da Eurocopa Feminina de 2022, com destaques como Lucy Bronze e a goleira Mary Earps, que brilhou na final.
O Crescimento Técnico e Tático
Outro aspecto notável da Copa de 2023 foi a evolução técnica das seleções. Comparada a edições anteriores, como a goleada de 13 a 0 dos EUA sobre a Tailândia em 2019, os placares elásticos foram menos frequentes. O maior resultado do torneio, uma vitória de 7 a 0 dos Países Baixos sobre o Vietnã, ainda reflete disparidades, mas a média geral dos jogos mostrou maior competitividade. Goleiras, como Earps e a espanhola Cata Coll, exibiram atuações de alto nível, enquanto sistemas defensivos mais organizados dificultaram o caminho das favoritas.
A presença de oito estreantes — Vietnã, Panamá, Filipinas, Haiti, Marrocos, Portugal, Irlanda e Zâmbia — também evidenciou o alcance global do futebol feminino. Embora essas equipes não tenham avançado às fases finais, sua participação sinaliza um futuro mais inclusivo e diverso para a competição.
Destaques da Copa do Mundo Feminina 2023
A edição de 2023 foi histórica por diversos motivos. Além de ser a primeira vez que o torneio foi sediado por dois países e no Hemisfério Sul, a Copa quebrou recordes de público e audiência. Mais de 1,5 milhão de ingressos foram vendidos, e a final entre Espanha e Inglaterra, disputada no Estádio Olímpico de Sydney, atraiu milhões de espectadores ao redor do mundo.
A Conquista Espanhola e o Legado de Marta
A Espanha, com um futebol envolvente baseado em posse de bola e criatividade, coroou uma geração talentosa. Aitana Bonmatí, com três gols e duas assistências, foi o coração do time, enquanto Olga Carmona marcou o gol decisivo na final. Fora de campo, porém, a vitória foi ofuscada pela controvérsia envolvendo Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola, que beijou a jogadora Jenni Hermoso sem consentimento durante a premiação, reacendendo debates sobre igualdade e respeito no esporte.
Para o Brasil, a Copa marcou a despedida de Marta dos Mundiais. A maior artilheira da história da competição (17 gols) não conseguiu levar a Seleção Brasileira além da fase de grupos, com uma vitória (4 a 0 contra o Panamá), uma derrota (2 a 1 para a França) e um empate (0 a 0 com a Jamaica). Apesar do resultado, seu legado inspira uma nova geração de jogadoras, como Gabi Portilho, Ary Borges e Bia Zaneratto, que mostraram potencial para o futuro.
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Premiação e Visibilidade
Pela primeira vez, as jogadoras receberam premiações individuais garantidas pela FIFA, variando de US$ 30 mil (R$ 147 mil) para quem caiu na fase de grupos a US$ 270 mil (R$ 1,3 milhão) para as campeãs. O total de US$ 110 milhões em prêmios representou um aumento de 300% em relação a 2019, embora ainda distante dos valores do Mundial masculino. A visibilidade também cresceu, com transmissões amplas no Brasil (Globo, SporTV, Cazé TV) e acordos de última hora na Europa, após negociações tensas com a FIFA.
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O Futuro da Competição: Rumo a 2027
A Copa do Mundo Feminina de 2023 deixou claro que o futebol feminino está em ascensão, mas ainda enfrenta desafios. O equilíbrio técnico entre as seleções deve aumentar nas próximas edições, à medida que mais países investem na modalidade. O Brasil, escolhido como sede da edição de 2027, tem a chance de liderar esse movimento na América do Sul.
O Papel do Brasil como Anfitrião
A escolha do Brasil para 2027, anunciada em maio de 2024 durante o Congresso da FIFA em Bangcoc, marca a primeira vez que a Copa Feminina será realizada na América do Sul. Com infraestrutura testada em eventos como a Copa masculina de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o país promete uma edição vibrante. A Seleção Brasileira, já garantida no torneio como anfitriã, buscará seu primeiro título, aproveitando a torcida local e o comando de Arthur Elias, que substituiu Pia Sundhage após 2023.
O futebol feminino brasileiro, historicamente marcado por proibições (como o Decreto-Lei 3.199 de 1941) e falta de investimento, vive um momento de renovação. Clubes como Corinthians e Palmeiras têm dominado o cenário nacional, e políticas públicas, como a Estratégia do Ministério do Esporte, visam profissionalização e formação de atletas. A Copa de 2027 pode ser o catalisador para superar barreiras estruturais e ampliar a visibilidade da modalidade.
Tendências para o Futuro
O aumento do número de seleções para 32 em 2023 deve se manter, mas há discussões sobre uma possível expansão para 48 equipes, como no Mundial masculino a partir de 2026. A FIFA também planeja dobrar os investimentos no futebol feminino, alcançando US$ 1 bilhão, e criar um Mundial de Clubes feminino. Esses passos visam equiparar a modalidade ao futebol masculino em termos de estrutura e relevância global.
A evolução técnica das seleções, aliada ao crescimento de ligas nacionais e à pressão por igualdade salarial, sugere que a competitividade só aumentará. Potências como Estados Unidos e Alemanha devem se reerguer, enquanto novas forças, como Austrália (quarta colocada em 2023) e Colômbia, podem surpreender em 2027.
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O Impacto da Copa Feminina 2023
A Copa do Mundo Feminina de 2023 foi um marco na evolução das seleções, mostrando um esporte mais técnico, competitivo e globalizado. A vitória da Espanha, o adeus de Marta e os recordes de público e premiação destacam o potencial da modalidade.
Olhando para o futuro, a edição de 2027 no Brasil promete consolidar esse progresso, trazendo mais inclusão, investimento e emoção ao futebol feminino. Para os fãs, o recado é claro: o melhor ainda está por vir.